O Tempo
Por FOLHAPRESS
17/01/2020 - 19h31
Cerca de um ano após a tragédia em Brumadinho, a Vale recuperou o valor de mercado que tinha antes do rompimento da barragem em Minas Gerais, em 25 de janeiro de 2019.
Com dados econômicos positivos da China, seu principal importador, as ações da mineradora registraram alta de 3,3% nesta sexta-feira (14) e chegaram a R$ 57, valor acima dos R$ 56,15 registrados no pregão anterior à tragédia em Brumadinho.
Com a
valorização neste pregão, o valor de mercado da companhia foi a R$ 301 bilhões,
R$ 5 bilhões a mais do registrado pré-Brumadinho.
Logo após o
rompimento da barragem de rejeitos na mina do Córrego do Feijão em Minas
Gerais, os papéis da mineradora foram a R$ 42,38, queda de 24,5% no pregão e
uma perda de R$ 72 bilhões em valor de mercado em um único dia.
O número
oficial de mortos da tragédia é de 255 e 15 pessoas ainda são dadas como
desaparecidas.
A valorização
da Vale é fruto do otimismo do mercado com a empresa e com o setor. A China,
maior importador do minério de ferro brasileiro, assinou na quarta (15) a fase
1 do acordo comercial com os Estados Unidos, o que deve acelerar sua economia e
aumentar a importação de minério de ferro da Vale.
O preço da
matéria-prima também deve subir em 2020, segundo relatório do Credit Suisse. O
documento argumenta que os estoques da China terminaram 2019 em níveis muito
baixos e que isso, junto ao ano novo chinês mais cedo, sugere que a produção de
aço deve crescer rápido no primeiro trimestre.
O banco
também cita planos de investimento em infraestrutura da China, além de oferta
ainda reduzida da commodity, com os estoques dos portos nos níveis mais baixos
desde setembro e com os embarques do Brasil e da Austrália caindo com o inicio
da temporada chuvosa em ambos.
Do lado
corporativo, o Bradesco BBI recomendou compra das ações da Vale na segunda
(13), indicando que a empresa é uma "subestimada máquina de fazer dinheiro
em modo de diminuição de riscos", o
que levou a Vale a subir 3,6% na ocasião. O Bradesco é um dos maiores
acionistas da Vale.
O cenário
positivo se junta às medidas reparatórias e preventivas que a companhia tem
anunciado, como a reincorporação de nove barragens semelhantes à de Brumadinho
ao relevo e ao ambiente (descaracterização). A medida visa evitar novos
rompimentos.
A barragem de
Brumadinho se rompeu em menos de dez segundos, e despejou 9,7 milhões de metros
cúbicos de rejeitos em menos de cinco minutos, o equivalente a 75% do conteúdo
da estrutura.
Os materiais
retidos na barragem apresentavam comportamento frágil, diz relatório, fazendo
com que perdessem resistência.
O ocorrido é
semelhante ao rompimento da barragem de Mariana, em 2015, da mineradora Samarco
–que tem a Vale como uma de suas donas–, quando 19 pessoas foram mortas.
Foram abertas
cinco CPIs para investigar o caso: na Câmara, no Senado, na Assembleia
Legislativa de Minas Gerais e nas Câmaras de Vereadores de Belo Horizonte de
Brumadinho.
Em setembro,
treze funcionários da Vale e da Tuv-Sud, empresa alemã responsável por atestar
a estabilidade da estrutura de Brumadinho, foram indiciados por crimes de
falsidade ideológica e uso de documentos falsos com relação ao rompimento da
barragem B1, na mina Córrego do Feijão, em Brumadinho.
Segundo
estimativas da Vale, foram desembolsados com reparação, indenizações e despesas
pelo desastre em Brumadinho US$ 1,6 bilhão (R$ 6,55 bilhões) em 2019. Tal valor
é menor que a quantia a ser distribuída acionistas de R$ 7,25 bilhões, na forma
de juros sobre capital próprio, referentes ao ano de 2019.
A provisão
total relacionada a Brumadinho até 2031 é de US$ 8 bilhões (R$ 32,75 bilhões),
valor que inclui a descaracterização de nove barragens.
Nos dois
trimestres que se seguiram ao desastre, a companhia reportou prejuízos líquidos
de R$ 6,78 bilhões no total. No terceiro trimestre, a Vale voltou a registrar
lucro, de R$ 6,5 bilhões, um resultado 13,7% superior ao registrado no mesmo
período de 2018.
A tragédia em
Brumadinho afetou a produção de minério de ferro da companhia e afetou a
indústria brasileira, com impacto negativo no PIB (Produto Interno Bruto) do
país.
Após o
rompimento no Córrego do Feijão, a mineradora interrompeu o uso de barragens
semelhantes e, em seguida, autoridades como o Ministério Público e a ANM
(Agência Nacional de Mineração) determinaram o fechamento de outras unidades.
De acordo com
a Vale, sua produção de minério no primeiro trimestre foi 11,1% menor do que no
mesmo trimestre do ano anterior. A queda comprometeu a disponibilidade
internacional da matéria-prima, elevando seu preço.
Segundo
relatório da XP Investimentos, "para cada US$ 10 por tonelada de aumento
no preço do minério, o Ebitda da Vale aumenta US$ 3 bilhões".
O Ebitda
(lucro antes de impostos, depreciação e amortização) é uma medida usada por
analistas do mercado financeiro para avaliar o resultado operacional da
companhia. A empresa pode ter um Ebitda positivo e registrar prejuízo. No
terceiro trimestre de 2019, a Vale teve um Ebitda de R$ 18,3 bilhões.
"A
produção [da Vale] foi comprometida, mas isso foi compensado pelo preço do
minério de ferro, que está em um patamar bem elevado. Fora que a companhia fez
o dever de casa bem feito, reduziu o endividamento e melhorou o caixa",
diz Luis Sales, da Guide Investimentos.
O analista
lembra que a empresa quase se recuperou de Brumadinho já em abril do ano
passado, mas voltou a cair pelos riscos relacionados a outras barragens.
A alta do
dólar, cotado a R$ 4,16, também contribui para a melhora nos resultados da
companhia, que é voltada a exportação. Desde janeiro passado, a moeda americana
sobe cerca de 10% em relação ao real.
No mesmo dia
da tragédia em Brumadinho, a XP afirmou em relatório que o rompimento da barragem
e queda de 8% dos recibos de ações (ADRs) da mineradora na Bolsa de Nova York
no dia 25 não alteravam a recomendação de compra da corretora.
"A queda
de aproximadamente 10% [em Nova York] parece já refletir parte relevante dos
riscos, portanto mantemos nossa recomendação inalterada, em compra, com
horizonte de médio - longo prazo. Entretanto, uma série de incertezas em
relação ao impacto no curto prazo permanecem, portanto sugerimos cautela",
diz Karel Luketic, estrategista-chefe da corretora, no documento.
Diferente das
ações no Brasil, as ADRs ainda não se recuperaram da forte queda e são cotados
a US$ 13,63 (R$ 56,75). Antes da
tragédia, eles eram negociados a US$ 14,86 (R$ 61,87).
Na ocasião, a
Bolsa de Valores brasileira estava fechada por conta do feriado do aniversário
da cidade de São Paulo. Nesta sexta, o Ibovespa fechou em alta de 1,52%, a
118.478 pontos.