ENTREVISTA-Chinesa SAM confia em aval para minerar ferro em MG apesar de obstáculos

Por Marta Nogueira
Reprodução REUTERS


RIO DE JANEIRO (Reuters) - A empresa de mineração Sul Americana de Metais (SAM), uma unidade da chinesa Honbridge Holdings, está confiante que receberá os avais necessários para iniciar a produção em um projeto de minério de ferro em Minas Gerais de 2,1 bilhões de dólares até 2025, disse o CEO à Reuters.

O projeto enfrenta obstáculos ambientais e legais após o Brasil sofrer com dois desastres fatais com barragens nos últimos anos, mas Jin Yongshi acredita que as autoridades darão a luz verde, após a empresa ter promovido a redução de impactos ambientais e o aumento da segurança operacional.

Com capacidade para produzir 27,5 milhões de toneladas por ano, com teor de 66,2% de ferro, o empreendimento chamado de Bloco 8 está previsto para ser construído ao norte de Minas Gerais, histórico Estado produtor de minério do Brasil e palco dos desastres de mineração que mataram centenas de pessoas nos últimos quatro anos.

“Em chinês, nós temos um ditado que diz: ‘você não pode parar de comer porque engasgou’”, disse Yongshi, em entrevista à Reuters, durante uma visita ao Rio de Janeiro na véspera.

“Nós tivemos problemas, desastres, na indústria de mineração no passado, mas não podemos parar por causa disso, nós temos que achar soluções sobre como fazer a indústria de mineração mais segura. O que podemos aprender a partir dos desastres? Isso é muito importante.”

O Bloco 8 fica no município de Grão Mogol e a estrutura do complexo minerário engloba ainda Padre Carvalho. Outras duas cidades, Fruta de Leite e Josenópolis, também terão estruturas relacionadas ao projeto.

O executivo ressaltou que a empresa tenta desenvolver o depósito minerário no local há cerca de 10 anos, mas que a obtenção de licenças foi atrasada após os dois rompimentos de barragens em Mariana e Brumadinho.

Segundo ele, nesse período, o projeto teve que passar por grandes mudanças e reestruturações e foi possível incorporar inovações, incluindo planos para o desenvolvimento social e econômico da região.

Até o momento, a empresa já investiu 74 milhões de dólares em pesquisas, testes e estudos.

OBSTÁCULOS
Mas, em um novo revés neste ano, a Justiça suspendeu a tramitação de processos de licenciamento ambiental da SAM, após ação movida pelo Ministério Público, que questiona a competência estadual para realizar o licenciamento.
O MP quer que o projeto de mineração seja licenciado pelo órgão ambiental federal Ibama juntamente com um mineroduto de 480 km a ser construído por uma outra companhia independente, chamada Lótus Fortune Holding, para escoar a produção pelo Porto Sul, em lhéus (BA). A SAM já recorreu da suspensão do processo.

“Nós acreditamos que iremos resolver esse problema em breve”, disse Yongshi, para quem grande parte da resistência em relação ao projeto vem da necessidade da construção de barragens de mineração, embora a decisão judicial não esteja relacionada à viabilidade do projeto.

Estão previstas duas barragens para receber os rejeitos, uma de etapa única e uma segunda maior, construída por uma técnica chamada de linha de centro, com capacidade para armazenar 845 milhões de metros cúbicos de rejeitos, 17 vezes mais que a barragem da Samarco, que se rompeu em 2015, em Mariana.

Também presente na entrevista, a diretora de Relacionamento e Meio Ambiente da SAM, Gizelle Tocchetto, afirmou que a segurança não está relacionada simplesmente com o tamanho da estrutura, mas sim com a capacidade da empresa de operar e garantir o bom funcionamento dos equipamentos.

A empresa, segundo ela, busca dialogar com comunidades, autoridades e diversos segmentos da sociedade para explicar os seus métodos de segurança.

As barragens no Bloco 8 são necessárias, uma vez que o minério encontrado na região tem apenas 20% de teor de ferro e a empresa planeja agregar valor comercial por meio de beneficiamento a úmido, para transformá-lo em um produto de 66,2% de teor.

INOVAÇÕES
Dentre os principais avanços, Tocchetto destacou que a empresa conseguiu o desenvolvimento de alternativas tecnológicas que, em um caso hipotético de rompimento de barragem, todo o rejeito ficaria restrito à área do projeto, sem atingir nenhuma comunidade.

Para isso, a empresa prevê a construção de uma grande estrutura de contenção, além de utilizar a própria cava da mina em atividade para receber os rejeitos e uma barragem de água que está incluída no projeto. Antes desses aprimoramentos, simulados mostravam que uma eventual mancha poderia correr por 400 km.

As inovações foram buscadas após o último desastre em Brumadinho, quando uma barragem da Vale se rompeu, deixando mais de 255 mortos, em janeiro de 2019.

“Não dava para a gente passar incólume depois de Brumadinho, falar que nosso projeto não tinha nada para ser reavaliado”, afirmou Tocchetto.

O Bloco 8 prevê aproximadamente 1.100 empregos diretos e 5.600 indiretos quando estiver em operação, e durante as obras deverá demandar cerca de 6.200 empregos diretos. A empresa elaborou programas de capacitação de fornecedores e de mão de obra local.