Arrecadação de royalties da mineração alcança R$ 1 bi no 1º trimestre

Por Ana Paula Machado, Valor — São Paulo
09/04/2020 17h08

Foto:Divulgação | CSN

A arrecadação da Compensação Financeira pela Exploração Mineral (Cfem) no país no primeiro trimestre deste ano apresentou um aumento de 17%, chegando a R$ 1,02 bilhão.

Metade do recolhimento da Cfem, 51%, está concentrada no Estado do Pará. Nos três primeiros meses do ano, o Estado respondeu pela arrecadação de R$ 518 milhões, um aumento de 39% em comparação com o mesmo período do ano anterior. Os dados foram divulgados pela Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais e do Brasil (Amig).

Minas Gerais, segundo maior arrecadador de royalties do país, respondeu, no trimestre, por 38% da arrecadação nacional, totalizando R$ 392,1 milhões. De acordo com a Amig, no comparativo com o mesmo período de 2019, nota-se uma queda de 1,6%, justificada por menores níveis de produção.

“Cumpre destacar que, desde dezembro de 2019, as operações na barragem de Laranjeiras, estrutura que faz parte do Complexo de Brucutu, opera com cerca de 40% da sua capacidade, gerando um impacto de 1,5 milhão de tonelada por mês. Ainda assim, em novembro de 2019, houve retomada parcialmente compensada pela das operações da Mina de Alegria, que estava paralisada desde março de 2019”, informa o documento.

Os números, no entanto, se referem à produção mineral que ocorreu em novembro, dezembro e janeiro. A queda em Minas Gerais pode ser explicada, ainda, pelas chuvas que acometeram o Estado no início do ano que parou algumas operações de mineradoras. Para o consultor de relações internacionais e econômicas da Amig, Waldir Salvador, nos próximos meses poderemos ver um recuo de 10% a 20% da produção do país devido a pandemia do novo coronavírus.

“Ainda não vimos nenhuma medida de redução da produção, principalmente de minério de ferro. Isso porque a demanda chinesa ainda está forte. A China consome 60% dos minério brasileiro. O dólar, nesse patamar, está segurando muito a exportação, por isso, o resultado das empresas no primeiro trimestre será bom. Pode ser que o recuo na produção de minério ferro será um pouco menor do que poderia ser em outra situação”, disse Salvador.

Segundo ele, as grandes mineradoras mundiais devem começar a ajustar a produção para manter os preços em um patamar ainda lucrativo. “Não passaremos incólumes por essa situação. É um efeito em cascata. Quem consome o aço chinês está economicamente estagnado em função da pandemia. A produção invariavelmente vai cair, mas se o preço se mantiver em um bom patamar e com o câmbio em alta, a arrecadação não deve ser afetada neste ano”, afirmou Salvador.

O diretor do Sindicato das Indústrias Extrativas de Minas Gerais (Sindiextra), Cristiano Parreiras, a estimativa para este ano é uma produção de 150 milhões de toneladas de minério de ferro em Minas Gerais, sendo que cerca de 80% desse volume será destinado à exportação e os outros 20% serão consumidos no mercado interno.

“O preço, apesar de ter oscilado bastante com a pandemia, ainda está na faixa mais alta, entre US$ 80 a US$ 90 [por tonelada]. E temos também o efeito câmbio que tem ajudado bastante a mineração em Minas Gerais”, disse Parreiras. Os preços encerraram o primeiro trimestre com desvalorização acumulada de 9,6%, mas ainda acima dos US$ 83 por tonelada. Em março, a queda foi de apenas 0,8%, com a leitura de que restrições ao escoamento da matéria-prima do aço, por causa da quarentena em diferentes países, pode compensar a demanda menos ativa.